terça-feira, 23 de agosto de 2011

O piano





Conheci Fernando Moura em 82. Eu estava no Rio a convite do Xico Chaves, que por sua vez foi me apresentado por telefone pelo Stelinho (Stélio Valle, grande compositor cearense). O Xico tinha conseguido um horário no estúdio da Polygram e precisava chamar os músicos. Aí entra em cena o Rui Motta (eu tenho o privilégio de ser amiga dele também) que trouxe a banda - ele, Chico no baixo, Paulinho Guitarra e o Fernando nos teclados. Gravamos duas músicas (“Imagine Nós” e “Escorpião”, esta com a participação da Aurea Regina, na gaita).
Nunca esqueci a generosidade do Rui e do Fernando naquela noite na Barra. Fernando com seus longos cabelos a La Rick Wakeman, fez rapidamente um arranjo pra “Imagine Nós”, que só vim a gravar de fato no meu primeiro CD (Movieplay, 1996). Nesse disco, contei com a participação dele e do Rui, para a minha alegria. Os únicos músicos do Rio, se somando aos outros 22 (!) que gravaram em São Paulo, produzidos por Alexandre Fontanetti.
Um salto no tempo e eis o Fernando dividindo comigo o CD Praia Lírica. Antes fizemos duas músicas (“Tudo se Move” e “Noturna”, do CD de 2004).
Eu sabia que estava com a pessoa certa pra concretizar esse trabalho. Além da amizade de tantos anos, o conhecimento que ele tem da música do Ceará, o seu convívio com toda a turma daquela época.
A cada música escolhida e a cada arranjo que o Fernando mandava, eu me emocionava. Gravamos separados – ele no Rio e eu em São Paulo, no Space Blues, do Alexandre. Muitos emails trocados do Japão pra cá. “Paralelas” ele mixou em Tokio.
Juntos, fizemos apenas “Lupiscínica”, no estúdio Guidon, na Aclimação, no intervalo de um show que ele estava fazendo com o cantor japonês Kazumi Miyazawa. 
Demoramos todo esse tempo para dividir o mesmo palco – embora musicalmente o nosso encontro tenha começado naquela noite perdida dos anos 80. E havia de estarmos sós, eu e ele. Uma companhia que me honra. 

     

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

No palco sagrado



Só me dei conta de que nunca havia pisado o palco do Teatro José de Alencar para uma apresentação solo no dia, 29/07/2011. Tantos shows em Fortaleza e lá, onde dei meus primeiros passos na música, quando participei com Fernando Marques (também voz e piano) da Massafeira, eu ainda não havia me apresentado. Talvez guardando o momento para aquela noite, tão significativa pra mim, cantando os autores com quem tive a oportunidade de conviver e admirar, como Augusto Pontes, Rodger Rogério, Ricardo Bezerra, Petrúcio Maia, Fausto Nilo, Belchior, Ednardo, Brandão, Caio Silvio e Graco.
Fiquei muito emocionada quando cheguei e encontrei o Mauro Coutinho, nosso eterno técnico de som dos tempos do rock na Fortaleza anos 70. Fernando Moura ficou maravilhado com o piano, que pouco antes do show nos deu um susto, com um defeito numa mola (acho que foi isso). E no backstage estava tudo muito excitante. Valéria Pinheiro e seus bailarinos (Paulo,Alda e Tati), Cacilda Vilela e seus figurinos. Maira Sales e seus equipamentos. Laiza e Lindenberg ensaiando o bolerão.
A equipe torcendo junto. Sofrendo junto.Vibrando junto (Leo, Denise,Germana, Mateus, Davi,Wallace).
“Marquinhos chegou. Ricardo Bezerra também.Gilmar de Carvalho entrou.Fausto Nilo parece que vem”. 
Era o que se ouvia na coxia. TV C, TV Diário na cobertura antes, durante e depois.
No dia de um show sempre penso que aquele será um momento para nunca mais esquecer.Pra viver cada segundo de tudo – por que de manhã, como diz Fausto Nilo em “Retrato Marrom”, “o fim da festa é uma certeza”. Vou lembrar que estava o Paulo Gabriel, do alto dos seus 5 anos na platéia, e Rita, minha mãe, também, com seus mais de 80. Na primeira fila, impossível não ver, dois amigos Maurício – Cals e Coutinho. Herlon e Carol .E no camarim, Luciano Almeida. Franzé, Marisa, Flávio Paiva e Andréa. Renata, Rebeca, Olga, Rosane. Perdigão e Joanice.
Quase chorei quando dediquei o show ao Siegbert Franklin e ouvi quando alguém gritou desesperadamente pelo Lúcio Ricardo. Também gostaria que os 3 “mosqueteiros” do rock estivessem ali.Acho que estavam. Pois eu pensei bastante neles. E ainda lembrei com João do Crato e Fernando Piancó no camarim os ensaios-performance na casa do primeiro na Barra do Ceará.
Também quase chorei (ou chorei mesmo) quando cantei “Noturno”. E adorei cair nos braços de Valéria, Cacilda e Davi para trocar de roupa depois desta canção e entrar cantando “Paralelas” com um visual parecido com o que eu usava nos shows do Teatro do Ibeu e Teatro de Arena da Crédimus.
O show está só começando, mas é como o que me dizem as pessoas que encontrei e que não puderam ir: “No teatro é diferente”.